O mais antigo registro do terreno onde se pretende erguer o “Pontal do Estaleiro” foi encontrado nos arquivos da Câmara Municipal pelo pesquisador Ruben Neis*. É uma petição de 1888, em que Francisco Luiz de Melo requer a posse das terras marinhas fronteiras com sua chácara. Dele, provavelmente, decorre o nome do local – Ponta do Melo.
Dez anos mais tarde foi ali construído um trapiche para o despejo dos “cubos” ou “cabungos”, com os dejetos recolhidos nas casas das famílias que assinavam o serviço, prestado pela Prefeitura. Até uma estrada de ferro foi construída pelo município para transportar a carga de excrementos semanalmente lançada no rio.
Ainda hoje a Ponta do Melo é um dos locais onde o esgoto cloacal de Porto Alegre é lançado sem qualquer tratamento nas águas do Guaíba.
Era uma área pública, propriedade do Estado do Rio Grande do Sul em 1944, quando foi devolvida ao município de Porto Alegre e, seis anos depois, concedida pela prefeitura à empresa Só & Cia, então a mais tradicional ferraria e fundição da cidade que pretendia construir um estaleiro no local.
Inaugurado em 1952, o Estaleiro Só, tornou-se uma das maiores empresas do Rio Grande do Sul. Tinha 1.200 empregados em 1967, quando a Câmara Municipal votou a lei 3.076 autorizando o resgate do terreno, isto é, a transferência definitiva da sua propriedade para o Estaleiro Só.
Documento de 1967
Mas a mudança não foi efetivada na época. Pouco depois, em dificuldades, o Estaleiro Só foi vendido para a Empresa Brasileira de Indústria Naval (Ebin), do Rio de Janeiro, com o aval do governo federal. Só nove anos depois, em 1976, foi assinada, pelo então prefeito Guilherme Socias Vilella, a “escritura pública de remissão de foro”, ou seja, a transferência efetiva da propriedade do terreno para a empresa. (Essa transferência é hoje questionada. O advogado Caio Lustosa, ex-secretário de Meio Ambiente e integrante do Forum de Entidades, acredita que com a falência do Estaleiro Só o terreno deveria retornar ao Município. Lustosa pretende recorrer à Justiça para esclarecer o assunto.)
Documento de 1976
Com a Ebin, o estaleiro viveu um ciclo de grande expansão. O presidente era um almirante, de estreitas relações com a Superintendência Nacional da Marinha Mercante, a poderosa Sunamam. As encomendas fluíam, o estaleiro empregava três mil trabalhadores. Mas, uma década depois, com a crise financeira, veio o corte nos investimentos estatais, caíram as encomendas e a empresa entrou em crise.
No ano de 1992, começaram os atrasos nos salários e as greves. Os empregados começaram a ser demitidos em massa. “Foram mais de mil funcionários em um dia. No fim, ficaram apenas 130”, conta Moacyr da Rocha Curi, representantes dos ex-empregados que ainda esperam receber suas indenizações.
Um incêndio destruiu parte das instalações e jogou uma pá de cal na empresa. Em pouco tempo, todo o patrimônio do Estaleiro Só estava reduzido a escombros. Em 1999, o juiz determinou a penhora e o leilão do terreno para pagar a dívida com os trabalhadores, que chegava a R$ 9 milhões.”
*Sérgio da Costa Franco, Guia Histórico de Porto Alegre
“Não é recomendável sua ocupação”
A primeira tentativa de mudar a lei para permitir “atividades residenciais, comerciais e de serviço” no terreno do Estaleiro Só foi feita pela própria empresa, em maio de 1994, quando já em situação pré-falimentar.
Em ofício ao então Secretário Municipal do Planejamento, Newton Burmeister, ela alega necessidade de “adaptar-se às novas circunstâncias do mercado”. Pede permissão para transferir dali suas instalações industriais e “a modificação no atual regime urbanístico, que venha a permitir também o uso do terreno com atividades residenciais, comerciais e de serviço”.
Documento de 1994
Um mês depois, sai o parecer da Secretaria do Planejamento considerando “inviavel” a mudança pretendida. “Não está de acordo com o conceito de Área Funcional de Interesse Público… a altura proposta não representa melhoria da qualidade da paisagem urbana, devendo ser respeitada como diretriz de altura máxima a construir aquela constatada no local através das cumeeiras dos prédios existentes”.
O parecer esclarece que “face às peculiaridades locais o Estaleiro Só representa uma área com limitações de uso” e que “não é recomendável a intensificação de sua ocupação”.
Os quatro arquitetos (Lígia Klein Ebbesen, Elizabeth Mann, Maria Tereza Albano, Roberto Cé) e o engenheiro Luiz Fernando Rigotti, que assinam o parecer, acrescentam uma advertência “quanto à ocupação da Orla”:
“Porto Alegre tem perdido ao longo das últimas décadas um percentual significativo da orla do Guaiba com a privatização de áreas ou bloqueio de acesso da população a este importante espaço do território municipal. É diretriz do planejamento a valorização do Guaiba e de toda a extensão de sua costa como elemento da nossa identidade e bem de uso coletivo”.
"O Pontal do Estaleiro se propõe a transformar uma região privada e abandonada há mais de duas décadas em uma grande e excelente área semi-pública (espaços privados junto à espaços públicos) com sucesso garantido através do uso misto (comercial/serviços), criando um local para lazer, contemplação, entretenimento, esporte e cultura. Com a previsão da construção de bares, restaurantes, museu, ciclovia, marina pública, em torno de um novo parque na beira do Guaíba, totalmente público, o Pontal do Estaleiro é o que Porto Alegre necessita na hora que mais necessita: uma esperança de resgate à integração do porto-alegrense com o Guaíba.
Ousado ao extremo, virou alvo de críticas e lutas. Um projeto tão excelente e que trará tantos benefícios, o Pontal marca a história de Porto Alegre, abrindo espaço para o 'SIM' em plena terra do 'NÃO'.
O Pontal reabre discussões como: parcialidade da mídia, exploração de seu espaço, manipulação em prol de interesses particulares; vínculo político-partidário de ONGs e entidades que dizem estar lutando pelo bem coletivo de Porto Alegre; falsa democracia por parte de determinadas siglas políticas que historicamente lutaram pela adoção da própria democracia brasileira; atuação de estudantes universitários visando a bagunça e exaltando a própria falta de vontade em discutir situações cotidianas da cidade; o papel da Câmara de Vereadores: discutir urbanismo de forma técnica ou supositória.
O que importa é que o Pontal tem futuro quase que garantido e com a sede da Fundação Iberê Camargo e o BarraShopping Sul, a região se consolidaria como um pólo de desenvolvimento da Capital. "
Situação da orla em 2010
Localizado em uma estratégica península que antes funcionava um dos maiores estaleiros do Brasil, o Estaleiro Só, o Pontal do Estaleiro vai ser, junto com seus vizinhos, Museu Iberê Camargo e Barra Shopping Sul, um dos motivos para a valorização de uma área periférica, o bairro Cristal, pobre, extremamente degradada e principalmente MAL APROVEITADA de Porto Alegre.
Museu Iberê Camargo, magnífica obra em concreto branco do renomado arquiteto português Alvaro Siza, ao fundo o Barra Shopping Sul e o Hipódromo do Cristal, no centro a atual área abandonada do antigo Estaleiro Só.
Projeto Concluidos
Porto de Belém
Porto de Belém
Porto de Recife, prédio residencial de 41 andares, obra em andamento
Que assim seja!
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