O museu da Fundação Iberê Camargo trará alguns diferenciais importantes para o cenário das artes plásticas brasileiras. Será a primeira edificação do arquiteto português Álvaro Siza no Brasil, e a proposta é de que o espaço funcione não apenas como local de exposição permanente da obra de Iberê Camargo, mas também como um verdadeiro centro cultural, onde deverão ser realizados cursos, mostras temporárias, seminários e estudos sobre a produção artística contemporânea.
O museu, que contará com uma área total de 8.250 m², incluindo um estacionamento com 100 vagas, está sendo construído na Avenida Padre Cacique, em um terreno recortado por uma escarpa, de frente para o Rio Guaíba. Dispondo de tecnologia avançada para a sua execução, o projeto determina a utilização de um tipo especial de concreto, que maximiza a durabilidade e a beleza da construção.
Vale lembrar que o projeto é ambientalmente responsável. Possui uma pequena estação de tratamento de esgoto e um baixo consumo de energia. A preocupação com a conservação e a segurança das obras também está presente. As especificações técnicas do projeto estão de acordo com as normas internacionais mais rígidas de segurança para o acervo.
Museu Iberê Camargo abre para visitação
Prédio é um dos destaques
Já está aberto ao público o prédio da Fundação Iberê Camargo, na avenida Padre Cacique, em Porto Alegre. Confirmando que a curiosidade pública sobre o edifício, obra representativa do que há de mais moderno em termos de arquitetura, apenas na primeira hora de visitação 170 pessoas já haviam acorrido ao espaço criado para expor o acervo do artista Iberê Camargo.
Nas paredes brancas dos amplos salões de exposição, espaços sóbrios com piso revestido de ripas de madeira, as telas escuras, vigorosas, soturnas do mestre gaúcho do expressionismo ganham ainda mais destaque. O contraste com a luminosidade do espaço acentua os detalhes dos quadros de Iberê, artista que empilhava pinceladas e texturas em suas obras, produzindo quadros nos quais as figuras são quase em relevo, ou de uma densidade maior que o fundo ou em baixos-relevos escavados a espátula na tinta espessa.
— Dá para sentir o vigor do Iberê em seu trabalho, ele era um artista muito vigoroso, e com toda essa luz dá para perceber esse ímpeto na própria pincelada na tela — comentou a arquiteta Marília Goulart, uma das visitantes do espaço.
Uma primeira visita ao museu Iberê é também uma experiência de indecisão. Descendo do quarto andar em direção ao térreo, vários dos visitantes por vezes se viam em dúvida sobre se reparavam nos quadros ou no próprio edifício — ao contrário do que pode sugerir a vista que se tem do exterior do prédio, as janelas são amplas e deixam passar muita luz para o ambiente.
A Fundação foi criada em 1995 pela viúva de Iberê Camargo, Maria Coussirat Camargo, para quem ele deixou seu acervo artístico. Em 1996, decidiu-se construir uma nova sede para a Fundação, então situada na antiga residência do artista, no bairro Nonoai. Um local foi arranjado quando o governo do Estado do Rio Grande do Sul doou um terreno no bairro Cristal, às margens do lago Guaíba.
Entre junho de 1998 e março de 1999, ocorreu a seleção do projeto, tendo sido escolhido o do arquiteto contemporâneo português Álvaro Siza Vieira. O projeto foi a primeira obra de Siza Vieira na América do Sul e levou o arquiteto a vencer, em setembro de 2002, o Prêmio de Leão de Ouro, na Bienal de Arquitetura de Veneza.
A nova sede foi inaugurada no dia 30 de maio de 2008.
A Fundação Iberê Camargo coordena o Projeto de Catalogação da obra de Iberê Camargo, que vem realizando uma ampla documentação e pesquisa a respeito da produção artística e intelectual do artista, bem como de documentos que nos falam de sua vida e obra.
Seu Acervo está dividido em uma parte Artística e outra Documental. A primeira conta com mais de cinco mil obras, entre desenhos, guaches, gravuras e pinturas, enquanto a segunda abriga mais de 20 mil catálogos, recortes de jornais e revistas, fotografias, correspondências, cadernos de notas e matrizes. Estas obras são mantidas em uma reserva técnica especialmente projetada para a guarda de todo este grandioso material.
"Estou realizada porque era tudo o que o Iberê queria."
Assim diz sentir-se Maria Camargo, esposa de Iberê Camargo, em relação à inauguração do museu que leva o nome do artista plástico. Após muitos anos sediando a Fundação Iberê Camargo em sua residência, Maria enfim conseguiu realizar o sonho do marido: a construção do Museu Iberê Camargo.
Segundo ela, a intenção do artista era trazer a cultura para Porto Alegre, pois em cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo já existiam movimentos mais definidos do que aqui. A instituição agora conta com nove salas de exposições, auditório, hemeroteca, biblioteca e videoteca e nas palavras de Dona Maria "é um bem que veio para o Estado". A inauguração da casa é marcada pela mostra Iberê Camargo Moderno no Limite e é composta, em sua maioria, por obras deixadas pelo artista, morto em 1994, que fazem parte do acervo de sua esposa.
A Porto Alegre de Maria Camargo
Maria Camargo diz : "minhas recordações são de uma Porto Alegre antiga, antes de ir embora daqui. Hoje em dia saio muito pouco". Aos 26 anos, ela foi morar no Rio de Janeiro e retornou para cá na década de 80 com Iberê. Um dos lugares que fazem parte de sua memória afetiva é a Praça da Matriz, lugar onde conheceu o artista com quem viria a se casar. Os tempos de criança a fazem lembrar do Parque da Redenção, cenário de muitas brincadeiras e, mais tarde, já na adolescência, de namoro. E recordou também do auditório Araújo Vianna, que não está mais em funcionamento.
Porto-alegrense, Dona Maria morou durante a infância e juventude na Lima e Silva e afirma que passeava muito por ali. "Depois, quando voltei para cá vi que Porto Alegre havia se transformado em uma grande cidade e as pessoas se tornaram mais comunicativas." E a cara de Porto Alegre? "Ah, atualmente só consigo pensar no Theatro São Pedro!"Acesse o site da fundação e fique por dentro do que esta rolando por lá…. http://www.iberecamargo.org.br/
Alvaro Size - Arquiteto
O arquiteto Álvaro Siza Vieira nasceu em 1933, na cidade de Matosinhos, em Portugal. Entre 1949 e 1955, estudou na Escola de Arquitetura da Universidade do Porto, onde mais tarde veio a lecionar. No início de sua carreira, colaborou com o arquiteto Fernando Távora e logo se empenhou em um projeto coletivo do período: não ser tradicionalista e não ignorar suas raízes.
Selecionado para projetar o Museu Iberê Camargo, em Porto Alegre, Álvaro Siza demonstrou toda sua vitalidade criativa: o projeto foi condecorado com o Leão de Ouro na 8ª Bienal de Arquitetura de Veneza, um dos mais importantes eventos do ramo. Luz, textura, movimento e espaço são cuidadosamente explorados no projeto, que favorece a relação direta entre o espectador e a obra de arte e torna o contato com o trabalho de Iberê Camargo ainda mais rico.
Dois artistas a falar: o artista plástico Iberê Camargo e o renomado português Alvaro Siza, um dos três arquitetos mais importantes da atualidade, doutor ‘honoris causa’ em seis universidades.
O edifício da Fundação Iberê Camargo está pronto para projetar Porto Alegre no cenário internacional da arquitetura moderna. Com 9,5 mil metros de área construída, prédio de curvas suaves, mas impactantes, construído num terreno doado pelo Estado, parceria público-privado. O valor da obra foi de R$ 40 milhões.
Segundo Jorge Gerdau Johannpeter, presidente da Fundação, e pelo engenheiro que executou a obra, José Luiz Canal, professor da UFRGS, Alvaro Siza projetou tudo com a obsessão ‘siziana’: desde os parafusos sextavados em aço inoxidável, figuras de sinalização das portas dos banheiros e saídas de emergência, porta-lápis, cabideiros e lixeiras do setor administrativo como, também, de todo o mobiliário. Como se vê, tudo nos mínimos detalhes.
No fundo do terreno foi preservado o paredão de rocha coberto por uma vegetação nativa. O aparelho de ar-condicionado funciona reciclando a própria energia que produz; a água que abastece os vasos sanitários vem da chuva, e sai já tratada. A iluminação artificial reproduz o mesmo tom da clarabóia; camadas de lã de rocha isolam os ruídos externos e o mormaço do verão de Porto Alegre; um fosso, inacessível ao olhar dos visitantes, contorna todo o prédio de maneira que, se o Guaíba transbordasse, haveria enorme espaço a preencher até chegar ao estacionamento. Tudo perfeito para acolher parte das 7 mil obras produzidas pelo artista, as quais estão protegidas por um sofisticado sistema de segurança.
Marcado por tragédias pessoais, a obra de Iberê mostra pinceladas dramáticas e amargas nos últimos anos de sua vida. Iberê, nasceu no ano de 1914, em Restinga Seca, distrito de Santa Maria/RS. Ainda jovem, deixou Santa Maria rumo ao Rio de Janeiro, através de uma bolsa de estudos. Visitando Portinari - o maior pintor da época - Iberê não deixou nada passar em branco: disse a Portinari que não gostava de sua pintura... Iberê foi aluno de Guignard, e após ter conquistado um prêmio resolveu ir para Europa estudar com André Lothe e De Chirico. Voltou ao Brasil, e não se filiou a nenhuma escola, mantendo-se independente.
A vida de Iberê foi, praticamente, transportada para as telas; tanto em suas fases tumultuadas como nas mais calmas suas pinceladas deixaram uma história rica na trajetória das artes. Mas é assim: o artista transmite suas emoções partindo de uma tela branca e fria; acabada a obra, tudo vira história, emoção, beleza e riqueza de detalhes.
Retratos, paisagens, naturezas-mortas, carretéis, explosões abstratas, tudo feito com paixão emergindo de uma força estranha. Tudo expressava um momento, muito longe da inércia.
Em 1980, num incidente em uma das ruas do Rio de Janeiro, o artista matou um homem. Lembro do caso, teve enorme repercussão. Esse episódio deixou Iberê extremamente abalado e algum tempo depois voltou para Porto Alegre. Anos depois, bem mais adiante, veio a contrair um câncer de pulmão, levando-o a inúmeras sessões de radioterapia. E essa dramaticidade, de sua luta contra a doença ficou registrada em seus últimos trabalhos.
Essa Fundação é a nova casa de Iberê, que abriga muitas de suas obras, sua história e seu espírito lutador. E todos que a visitarem sairão, sem dúvida, mais enriquecidos.
o horário da fundação mudou: de terça a domingo 12h as 19h, exceto quinta 12h as 21h
ResponderExcluirAdorei a matéria, estou fazendo uma análise de projeto para um trabalho da faculdade de arquitetura. A história abordada aqui é mais voltada ao artista, e meu trabalho é mais voltado ao prédio em si, mas a colaboração foi propicia e as fotos excelentes. Grata
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